Josaine Airoldi
Ele era um menino, ela uma mulher de 20 e poucos anos.
Achava-o muito atrevido para a pouca idade que tinha.
Lembra dele com olhar determinado em conseguir o que queria, levemente escondido sob a aba do boné – item obrigatório para quase todos os adolescentes.
Depois de quase 30 anos, o destino resolve brincar com eles.
Ele, agora homem feito, se vê sozinho e com imensa vontade de mudar a rota da sua vida, já que o caminho que percorreu até aquele momento não serve mais, a procura.
Vai tateando bem devagar o percurso, não tem nenhuma ideia de como vai reagir a sua busca por ela. Sabe pouquíssimas coisas a seu respeito, mas como sempre, não desiste.
Ela fica intrigada com o contato, mas como é impulsiva e meio distraída aceita conversar com ele virtualmente.
Fica sabendo o que aconteceu na sua vida em poucos minutos.
A imagem que tem dele – menino – se confunde com o relato sobre como está atualmente.
Fica impressionada em como amadureceu e no que se tornou.
Confessa para si que não dava nada por ele.
Surpreendentemente, faz bem a ela conversar com ele, mesmo que através de mensagens.
Ela comenta com algumas pessoas sobre esse reencontro. Ninguém o conheceu naquela época, talvez por isso ninguém diz nada relevante. Quando muito tem alguma recordação do irmão dele, com quem ela namorava naquela época.
Final de ano, a vida segue em ritmo alucinante, mil coisas para fazer.
De repente, férias.
Aniverśario próximo. Emblemático. Como adora simbologias começa a achar significados em tudo.
Pensa em escrever um texto sobre a fase que está próxima.
Pensa em citá-lo na sua história. Afinal, de uma forma muito inusitada, o que conversaram passou a ser importante no que ela está se tornando ou no que está reconstruindo.
Num sábado de carnaval. Está sozinha em casa. O sol sob a varanda a convida para ir para a rua. Ler o livro deixa de ser prioridade, porque o pensamento está em saber mais sobre ele.
Ficam sabendo um pouco mais a respeito um do outro, vão percebendo que têm várias coisas em comum.
Combinam de se encontrar para verificarem se realmente há algo real ou é só carência afetiva.
Uma sucessão de impossibilidades surge. Ora é ela que não pode, ora é ele que não consegue ir.
Numa tarde ensolarada de um domingo qualquer ficam, finalmente, um de frente para o outro.
O que aconteceu depois?
Pois é! Não sei.
Pode ser que perceberam que era melhor continuar apenas como amigos virtuais.
Talvez houve um encantamento de almas, coisa que acontece raramente e ficaram juntos para todo o sempre.
Ou ao conversarem notaram que não tinham nada em comum e decidiram que o melhor era seguir a vida como se nada tivesse acontecido.
De repente, há outra possibilidade. Afinal, o destino, às vezes, gosta de brincar e nem sempre o acaso protege quem está distraído.
20/03/2.024